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quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

CARTA AOS AMIGOS E FILHOS DA TENDA



Saravá amigos e filhos da Tenda de Umbanda Luz da Aruanda.

Como é da nossa natureza tudo duvidar e só ter certeza depois que tivermos todas as provas, resistir aos ensinamentos e só aceitar aprender depois que tudo estiver escrito ou que seja dito com todas as palavras, ou seja, traduzido por alguém com mais tempo de religião, como se fosse possível apagar nosso passado, nossa caminhada e ignorando nossa capacidade de entendimento (ou quem sabe não querendo entender).
A Umbanda só se faz presente hoje em nossas vidas porque trilhamos esse caminho até ela e não fará sentido se não a aceitarmos em um dado momento, momento do despertar, como fazendo parte dela, sendo ela em essência e verdade. Buscando na fé, naquilo que não vemos, a nossa força e proteção. Louvando e dignificando aquela que nada nos pede e apenas nos diz vai com fé, com coração, com liberdade, busca te conhecer e te melhorar para cumprir teu difícil Karma que é enfrentar a ti mesmo, vencer e ser feliz.
Hoje, primeiro dia de 2014, um dia de recomeço, dia comum, aparentemente, porque sempre nos remete a reflexão, acordei com o Pai Luciano repensando a nossa casa com foco na caridade, mas como? Se somos espíritos em eterna busca, cheios de dúvidas....não sei!
Como sempre conversamos querendo o melhor a quem nada nos pede, a não ser paciência.
Pois bem, graças a Oxalá esses são momentos de muita alegria e ideias e é então que entramos em sintonia. Em sintonia com o que, meu Deus? Logo vão saber, alguém deve ter dito.

Depois de um almoço, farto e agradável, como nunca nos falta, saímos em direção a casa da minha mãe e, andando uns 50 metros eu enxergo uma menina de 10 anos aos prantos na rua, vinha de não sei onde, chorando muito. O Luciano que dirigia não enxergou e eu em desespero o fiz parar e voltar o carro para perguntar porque chorava aquele indefeso ser.
E acreditem a menina estava perdida, com dois reais na mão, em estado nervoso de não dizer nada que fizesse sentido, apenas que queria sua mãe e queria ir pra casa.
Nosso sentimento, tentando acalmá-la pra conseguir alguma informação que pudesse nos dar uma ideia de onde levá-la, foi aos poucos se tornando desespero com tudo que estava acontecendo.
Pouco do que falava fazia sentido e andamos em todas as direções que ela lembrava: “é lá pra cima....é la pra baixo...é perto de uma caminhonete azul...é perto de uma caminhonete grande da cor do teu carro....eu tô na casa da minha tia...ela foi trabalhar...meu nome é Débora”...e assim uma sucessão de coisas sem sentido, eu pedindo calma e o Luciano fazendo promessa de guaraná e cigarrinho, vocês sabem pra quem.
Nossa esperança era de encontrar alguém em desespero pelo caminho procurando uma criança. Meu desespero era ver as ruas calmas e pensar que pudessem nem ter dado falta da menina.
Nossa aflição quando pensamos em chamar a brigada militar e ela chorando muito nos pediu: “não chama a polícia”.
E agora? Como ficar com um problema desses? Como poderíamos nós, negar esse acontecimento? Quantas crianças se perdem em nosso bairro? Porque com a gente? Era possível que não fosse com a gente? 
Depois de andar por várias ruas e quase duas horas de busca decidimos voltar para casa e esperar.
Consegui acalmá-la um pouco e como um súbito de esperança eu disse a ela "quem sabe vamos eu e tu a pé perto de onde te encontramos, quem sabe tu te lembra", ela aceitou e eu pedi ao Luciano que fosse de carro para outro lado para ir perguntando ou avisando que se procurassem por uma menina, ela estava em segurança.
Foi então que conversando e andando calmamente fui relembrando com ela o percurso e o sentido e ao chegar numa das ruas que já havíamos passado de carro, ao longe ela reconheceu sua irmã vinda com as mãos na cabeça, também muito nervosa por tê-la encontrado tão longe de tudo.
Essa menina um pouco maior, nervosa que estava também teve dúvida de como voltar e nos contou que várias pessoas estavam procurando por ela. E eu já me acalmando pensei porque tanto tempo se passava e ninguém chegou até ali? Se fosse minha filha, eu sairia gritando pelas ruas pedindo socorro a todos que encontrasse, para que me ajudassem a achar minha menina.
Bem essa história aconteceu hoje, o desfecho dela foi possível, mas para que tenham a dimensão do ocorrido essa menina mora na RS 20, numa zona rural e estava passando o ano novo na casa de uma tia, num lugar que ela não conhecia.
Isso é para nós apenas um recado...nosso trabalho começou no primeiro dia do ano de Yori, com Yori pedindo que cuidemos de nossa essência de criança, de todas as crianças, de nossa criança, das crianças que nos procuram pedindo socorro, das crianças que negamos.
Um fraterno Saravá com a certeza de que tudo se cumprirá e não depende que acreditemos, mas se tivermos fé, nos será possível aprender com esse todo, nos tornando parte dele.
Saravá a Ibejada e Saravá ao nosso guardião criança que resolveu a situação rapidamente.